2 de nov. de 2011

MUDANÇA CONCEITUAL


Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
         Trabalho com esporte no meio do futebol feminino há 16 anos, e ao assistir a Seleção Brasileira perder a decisão da medalha de ouro no PAN de Guadalajara, para o Canadá solidifiquei minha convicção de que precisamos implementar mudanças estruturais, conceituais no trabalho desenvolvido, para a que a modalidade se desenvolva de maneira organizada, para que se solidifique, conquistando de vez seu espaço.

        Cresce o número de praticantes em todo país e cada vez mais em idade precoce, assim como a participação e interesse das mulheres pelo “esporte bretão”, de um modo geral. Isto é facilmente constatado nas arquibancadas dos estádios, nos bares com transmissões de jogos, sem falar na mídia especializada, na arbitragem e também em campos e quadras.  Cai assim mais um dos últimos redutos machistas.

    Mas ainda há focos de resistência nos clubes e federações, pouco caso de outras autoridades esportivas e desinteresse da grande mídia (salvo situações pontuais, como por exemplo, uma final ou conquista de determinada competição ou a atleta Marta sendo eleita mais uma vez a melhor do mundo pela FIFA) e de patrocinadores.

      Mas, não podemos transferir responsabilidades e achar que a culpa é somente de uma sociedade ainda conservadora, patriarcal e machista e de dirigentes tradicionais, muitos ultrapassados em suas convicções, que resistem em abrir espaço para uma modalidade que “não dá lucro” e a qual eles não entendem, não dominam, não possuem “know-how”.

     Os interessados e as interessadas que buscam ser valorizados pelo que fazem devem fazer a sua parte.
Marcos Planela Barbosa
    Precisamos organizar, como já existem hoje no RS (AGFF), Associações/ Ligas Estaduais de Clubes de Futebol Feminino, com pessoas qualificadas, conhecedoras do assunto e compromissadas com a causa. A partir disto, formar uma Liga ou Associação Nacional, que trataria de questões como organizar um calendário nacional unificado, do futsal e do futebol, prevendo períodos de convocações das Seleções Brasileira – Adulta, sub20 e sub17. Buscando ao máximo definir períodos de disputa para estes, diminuindo conflitos de datas e por conseqüência, de interesses entre atletas, clubes e CBF.

    Criar um banco de dados sobre competições, clubes, técnicos e dirigentes que hoje comandam o futebol feminino de norte a sul do país (pesquisa).  
    Fomentar cursos, em parceria com CONFEF e Sindicato dos Técnicos de Futebol, visando qualificação das comissões técnicas dos clubes. Cursos também para dirigentes, alinhando pensamentos e procedimentos para tornar os ambientes das atletas mais focados no objetivo fim – jogar futebol.          
    E no que diz respeito às atletas, virar a página. Renovar. A partir das Seleções Nacionais, que são a referência.
      Mudar o comando, mudar comissões técnicas? Sim, se preciso. Mudar atletas? Sim, quantas forem se fizer necessário. Algumas já não apresentam a menor possibilidade de crescerem, evoluírem, física, técnica ou taticamente e por seu comportamento, não são bons referenciais para as mais jovens.
     
      Há a necessidade de alinhar procedimentos, critérios, conceitos de convocação e de controle da parte disciplinar das atletas evitando a formação de subgrupos que saem do foco principal. Que com seu comportamento inadequado desrespeitam os ambientes de trabalho e comprometem a imagem do grupo, do produto “futebol feminino” e, em alguns casos, tornando o ambiente pesado, pouco sadio, com situações de constrangimento para atletas, principalmente mais jovens. Passando uma imagem errada e reforçando estereótipos, tabus.

     Não há porque e tão pouco o direito de se discutir questões de opção sexual, mas respeito se conquista, não se impõe e não podemos fazer de um esporte um nicho comportamental, até mesmo pelo crescimento do número de praticantes e da diversidade do mesmo.
   Em qualquer ambiente de grupo há necessidades de regras de organização e comportamento, limites, respeito a todos envolvidos e o futebol feminino carece disto, vindo de baixo para cima, com a conscientização e de cima para baixo com medidas eficientes.

Pelotas, 28 de outubro de 2011.

Marcos Planela Barbosa

Técnico de Futebol

CREF 010809-P/RS

Reg. Sindicato dos Treinadores Profissionais do RS – 005/PEL    

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